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Opala 1973 Especial, mais que especial de Neimar Duarte

O começo.

Minha paixão por carros deste tipo começou na infância e sempre admirei o Chevrolet Opala. Era sempre mencionado como um carro estiloso, potente, bravo e tal. Sempre achei o design do coupê incrível! Eu queria um desses e sabia exatamente o modelo, mas tinha consciência de que não teria condições de comprar um coupê 6 cilindros da primeira geração, pois os poucos que eu via a venda já eram muito caros naquela época.

O motor.

Em 2008, comecei a realizar este sonho, quando eu tive a oportunidade de conseguir o motor 6 cilindros e caixa de marchas, com meu amigo Japão, que conseguiu muitas outras peças pra mim.

Lá estava eu com um motor na garagem sem um carro, o pessoal achava muito engraçado isso.


Eu ia comprar um Opala pra colocar aquele motor, mas não tinha dinheiro ainda, sabia que queria um Opala de 72 a 79 coupê, de preferência 72, pois eu gostava dos “rabo de peixe” com luz de ré em baixo e frente com piscas cegos.
Tinha que estar em condições de uso pois eu ia precisar usa-lo até ter condições de trocar o motor, e não poderia bancar restauração no momento.

O opala.

Então em 2009 um amigo (Eduardo TomBack) me falou de um Opala a venda,  era um 4 cilindros1973 Especial! Então eu disse “putz, mas é assim mesmo que eu preciso!”.
Eu sabia que o 73 por ser “especial” teria a luz de ré embaixo do jeito que eu queria!
Eu nem queria ir olhar, pois não tinha dinheiro, mas Japão e Eduardo insistiram, então eu fui com eles e fiquei doido! O Eduardo ofereceu financiar esse carro pra mim, eu fiquei com medo, mas aceitei, pois estava doido pra ficar com ele. No outro dia eu busquei o carro. Não tinha nem lugar pra guarda-lo, então pedi ao meu amigo Guilherme, pra guardar na casa dele por uns tempos, depois fiquei uns tempos guardando ele na oficina do meu amigo Luiz ao lado de casa…

Depois com muita dor convenci meu pai a trocar o nosso amado Del Rey Ouro 82 que tivemos por 15 anos, por um carro menor e modificar toda a garagem pra poder guardar o Opala em casa.

Antes de poder usar o carro, precisei revisar tudo, a maioria das coisas não funcionavam ou não estavam em ordem.
Usei ele com o velho e cansado 4cil 153ci por um bom tempo, mas o motor estava nas ultimas, gastava tanto óleo quanto combustível. Periodicamente falhava e eu tinha que parar na rua pra secar as velas.
Enquanto isso eu fui fazendo o 6cil com caixa de marchas, agregado e tudo novo, o próprio Opala ia levando e buscando suas futuras peças aos lugares necessários… E assim eu fui reconstruindo o motor 6 cilindros, caixa e agregado de suspensão, freios, etc. Tudo independente do carro.

O projeto.

Desenho do projeto, porém foi mantida a cor branca.

Em 26/12/2011 estava com tudo pronto pra fazer a troca, então nesse dia eu manobrei ele pela ultima vez com o motor 4cil na garagem pra ser desmontado.

Dos bancos dianteiros pra frente desmontei 100% do carro. Pro meu desgosto a lataria do cofre estava bem pior do que eu pensei, e eu já achava que estava ruim!

Meu amigo Paulinho Fonseca me emprestou uma maquina de solda TIG pra eu fazer os reparos na lataria do cofre do motor.
Tirei férias a partir do Natal pra fazer o serviço todo, pois eu precisava do carro pronto pra uso, lembrando que só tenho ele!

Meu irmão Aloísio Duarte me ajudou com as soldas e me ensinou a soldar enquanto ele estava de férias, depois eu tive que me virar, tive que substituir 60% do painel corta fogo, pois estava todo podre e remendado, mas não usei chapas prontas ou pedaços de outros carros, todas as estampas eu fiz a mão, no martelo e solda. Algumas das partes foram personalizadas, mas sempre seguindo a estética que seria de fabrica.
A parte frontal deu um bom trabalho, tinha que receber o radiador mais moderno do Opala 6cil com ventoinha elétrica, criei todas as peças recortes e estampas como eu imaginei que a fabrica criaria.

Em todas as partes, eu segui esta ideia, “as criações tem que parecer de fabrica aos olhos de um leigo ou desatento.” E de fato as pessoas olham, as vezes sabem que esta diferente, mas não sabem o que eu fiz.
Quando eu modifico alguma coisa eu não faço apenas pra ficar diferente do que a fabrica fez, eu faço pra melhorar a estética, aspecto ou função da área em questão.
A ideia de esconder a parte elétrica do carro e alguns componentes foi do “Japão” que foi o responsável por construir todo o chicote dianteiro do carro novo e alterado para ficar o mais oculto possível. Sem afetar funcionalidade, segurança e praticidade.
Enfim, fiz todo o serviço de modificações, funilaria e pintura no cofre. Montei o novo coração 250 e pronto, nem acreditei quando ligamos o carro pela primeira vez!
Este processo entre remover o 4cil e sair com ele da garagem com o 6cil levou 4 meses.

As alterações mecânicas foram feitas com o intuito de aprimorar o funcionamento do motor, consequentemente melhorando a performance, e deixando o carro ideal para o uso diário, por isso nada foi alterado no interior do motor.
Retrabalhei um coletor de admissão de alumínio para receber um carburador GM Rochester Bijet, que equipava originalmente um V8 283. Ignição eletrônica Bosch, elemento filtrante K&N, coletor de escape longo 6×2 feito pelo Otavio Soffiatto. Nos tubos secundários, logo após os coletores, eu fiz um X-pipe que otimiza a saída dos gases equilibrando a pressão entre os dois tubos e assim diminuindo “back pressure” e esvaziando melhor os cilindros.

Usei um suporte de filtro de ar de Camaro com tampa de Opala e desenvolvi um Ram Air que é uma entrada de ar para captar ar fresco de trás do farol esquerdo. Decidi fazer isso pois eu percebia deficiência no funcionamento do motor quando ele captava ar quente do cofre do motor, principalmente na degradação da marcha lenta em transito intenso. O ar fresco é mais denso, preenche melhor as câmaras de combustão e contem mais moléculas de oxigênio, essenciais pra uma combustão completa do combustível, o que aperfeiçoa performance e consumo.

Instalei direção hidráulica com setor de Opala e bomba de um Camaro 71 que é mais compacta, mas tive que fabricar todos os suportes do alternador e bomba, e usar uma configuração diferente de correias.

Depois de quebrar o diferencial Braseixos 3.54 três vezes, eu reconstrui um diferencial Dana 3.07 para substitui lo.

A estabilidade eu fiz questão de melhorar, pois o carro tem que ser bom, e não só bonito! Alem do conjunto de suspensão dianteira ser o mais moderno dos Opalas, usei barra estabilizadora de 25mm e estabilizador na barra de direção.
Na traseira adicionei a barra estabilizadora inferior.
Os freios são a discos duplos ventilados na dianteira e a tambor na traseira, com um conjunto de cilindro mestre e hidrovacuo mais moderno dos opalas.

Esteticamente, a minha ideia é realçar a tendência Muscle Car do Opala, ao estilo mais tradicional.

Na parte exterior, a customização ficou por conta das rodas personalizadas com o visual das originais, porem agora com aros cromados de 15×8” atrás e 15×7” na frente. Os pneus são BFGoodrich Radial T/A 235 60 R15 na traseira e 205 60 R15 na dianteira.

Retrovisores de Camaro 67, faixas do SS no capô, o friso entre as lanternas traseiras é do modelo 69/70. Na frente a grade e pisca cego do 72, com setas embutidas nas frestas ao lado da placa.   

No interior outro grande sonho é volante Grant Classic, pedal de acelerador de Galaxie, cintos de segurança GM novos de Camaro, a bola do cambio é uma edição especial de aniversario da Hurst na NASCAR orgulhosamente instalada em um trambulador original Hurst Shifter, que eu instalei usando juntas esféricas pra ficar ainda mais preciso.

Painel de instrumentos eletrônico da ODG, em que fabriquei no torno os discos prateados e peças dos ponteiros em alumínio para ficar quase idêntico ao original do Opala. Logo abaixo do radio eu adicionei um medidor de pressão de óleo e um voltímetro. Alem do conta giros que fica posicionado na coluna de direção em um suporte desenhado e construído por mim a partir de blocos de alumínio em torno mecânico.

Bom, na verdade futuramente vou ter que restaurar este carro de verdade, ele precisa de um bom trabalho de funilaria e pintura, mas por enquanto ele é assim! Aos poucos eu vou restaurando e construindo mais peças. Em breve quero fazer os bancos clássicos, típicos dos anos 60 e 70. Eu estou restaurando ao mesmo tempo que eu uso e curto o carro.

Durante todos esses anos, este carro vem me proporcionando muitos momentos bons,em passeios e no dia a dia com minha namorada, amigos, família.

O acidente.

Até que no dia 20 de maio de 2018 aconteceu o momento mais triste da historia deste Opala comigo, e também foi um dos piores dias da minha vida.

Em um domingo chuvoso pela manha, eu deixei minha namorada no trabalho e no caminho pra casa, tem um viaduto em forma de arco e em curva, e bem no inicio dessa curva existe uma emenda com uma lombada no asfalto. Quando eu passei por essa lombada o carro perdeu completamente a aderência e iniciou uma aquaplanagem, girou mais de 90 graus em um arco de em torno de 50 metros em silencio total, como se estivesse sobre gelo. Após passar de 90 graus atingiu a mureta direita com a quina dianteira esquerda do carro. Parecia um pesadelo, nem acreditei no que tinha acontecido.
Levei o carro pra casa, não sabia ainda quando eu iria poder recupera lo, sabia que daria muito trabalho.

A reconstrução.

Poucos dias depois eu decidi dar logo inicio ao trabalho, pois se não o fizesse logo eu não teria paz pra prosseguir com mais nada. Comecei os trabalhos, novamente na apertada garagem de casa. Desta vez eu queria fazer melhor do que antes, desmontei novamente tudo na frente do carro. Desta vez eu já tinha melhor conhecimento de funilaria, mas o trabalho foi mais difícil. Precisei cortar metade do frontal, onde foi afetado pela batida, descravei todas as peças de chapa uma das outras e individualmente, depois fiz a montagem e solda com tudo alinhado novamente.

Recuperei o capo, mas precisei trocar o para lama esquerdo, onde precisei de dois pra fazer um bom.

E decidi também trocar a porta do lado do motorista, pois alem de ela já estar ruim, foi afetada na batida. Usei a porta de uma caravan pós 86, então precisei adequar a sede da maçaneta e retrovisor, dentre outros detalhes internos nos suportes de maquina de vidro.

Aproveitei para deixar o cofre um pouco mais limpo visualmente, eliminando alguns furos e estampas de fabrica que só eram necessários para o processo de fabricação na linha de montagem.
Também aproveitei para corrigi problemas estruturais, principalmente na longarina direita que tive que substituir mais da metade dela.
Por fim repintei todo o cofre, para lamas e porta do motorista.

Alguns dos frisos da frente eu recuperei e outros eu substitui, mas precisei restaurar todos. Inclusive a grade que agora eu instalei a do modelo 71/72. Um detalhe sutil sobre a grade é que eu fiz suportes recuados em 25mm, posicionando a grade mais pro fundo na frente do carro. Ninguém vai reparar isso, mas faz o conjunto ficar mais harmônico.

Outro detalhe muito sutil, mas que eu sempre quis resolver fica no pé da coluna A, onde o vinco que vem da porta não da continuidade no para lama. Tem uma área de 1cm quadrado onde o design foi mal resolvido na fabrica. Então eu fiz ficar do jeito que eu acredito que o designer original queria que fosse.

Então depois de muitos dias de trabalho e quase ficando louco de tanto trabalhar de novo, eis que no dia 13 de dezembro de 2018 o carro ficou “pronto” de novo e eu pude novamente sair e dar uma volta com ele.

Uma coisa legal que observo é que normalmente quando as pessoas tem um objeto elas tendem a desgostar daquilo a cada dia e desejar outro, isso acontece com carros, celulares etc. Mas quando você tem o privilegio de ter um carro dos seus sonhos não é assim, a cada dia eu gosto mais dele, dez anos depois ainda dou risadas sozinho dentro dele na rua.
E fico muito impressionado como ele é carismático. Todos os tipos de pessoas gostam dele! As pessoas dão parabéns, param e pedem pra olhar, tiram foto, o tempo todo acenam na rua.
Desde o senhor que tinha ou queria ter um e sente nostalgia, até alguma criança de menos de 10 anos de idade que nunca viu aquele carro na vida, mas olha e diz que o carro é muito louco! Mesmo o meu ainda estando meio velho!

Neimar Duarte

Publicado em:Espaço do Leitor